- Puta que O pariu - disse Tarcísio sem animação.
De braços cruzados sobre o seu cansaço, seu estado de contemplação impotente lembrava a melancolia de uma tira de Charlie Brown. tudo que ele pode fazer agora é esquecer dos apesares, levantar os pesos e seguir.
OITO HORAS ATRÁS.
Tarcísio acorda em seu colchão de ar para mais uma quarta-feira de folga. Dia de descanso, lazer e resolver tudo num dia. O que é meio contraditório, talvez. Meio dia mais ou menos diz o relógio e Tarcísio repassa mentalmente as coisas a serem resolvidas no dia em ordem como estímulo para despertar.
Se você não conhece nosso personagem é bem simples gravar seu nome. O truque mnemônico que ele usa para não ser confundido é saudar-se como "Tarcísio. Igual o Meira, mas sem eira nem beira". Saudação o qual ele terá que mudar o dia que for um grande executivo. Isso se a saudação o deixar chegar até lá.
"Cortar o cabelo" - disse Tarcísio (não o Meira) chegando no estímulo necessário para levantar de sua cama.
O dia aparentemente vai bem nas atividades domésticas. Café da manhã, lavar roupa, dar banho do cachorro. E por um momento sente que seu dia vai bem. Sai de casa, não antes de perceber um problema técnico com seu meio de transporte. Sua Moto. Mountain Bike.
A câmara do pneu dianteiro murcho como um saco de Papai Noel de loja de um e noventa e nove. E não seria surpresa para nosso herói.
PEQUENO ADENDO
Ao se mudar para sua cidade dormitório com a intenção de economizar o dinheiro cedido pela empresa para a condução diária, Tarcísio (o França), decide investir numa bicicleta - meio saudável de ir ao trabalho - porém com leve ressalva. Não quer investir 400 reais numa Caloi completa 21marchas mas não sucumbe a uma marca inferior de 250. Assim compra uma bicicleta usada. Um achado. Cento e cinquenta. melhor que a encomenda!! Resumo da obra: Uma semana depois da compra estoura a câmara de trás; duas semanas depois o da frente; um mês depois o freio. Antes disso ele trocou a roda traseira. Uma semana em seguida a câmara da frente se rompe novamente. Três semanas depois a catraca dá problema e Tarcísio diz "Troca TUDO!".
Então foi a vez do pedal quebrar. E antes de ser concertado a cãmara da frente murcha no seu dia de folga deixando um leve ar de "seu horóscopo disse NAO SAIA" na quarta feira.
FIM DO ADENDO
Nosso heroi segue de bike até a bicicletaria, não fosse a precavida bombinha manual a bicicleta estaria inerte no ponto de partida. Deixada no conserto é hora de fazer as compras. Ração do cachorro, comedouro pro cachorro, escova de pelo para o cachorro e um kilo de soja. Não o cachorro não é vegetariano. A soja é o que mantém nosso herói do lado despreocupado da balança e do hospital (ok exagero de narração agora).
Depois de perder algum tempo na Cobasi calculando mentalmente quanto ficaria para montar seu aquário de caranguejos e depois de passar no mercado e gerar outra nota fiscal Tarcísio segue para a Decathon.
Lá investe num kit musculação de 10 kg (gravem isso) com barra e anilhas.
Anoitece, é hora de voltar para casa e esse momento é marcado por muita determinação e coragem, partindo do fato que seu cartão de ônibus está sem créditos. Neste momento nosso herói carrega uma caixa de papelão de compras, uma mochila de itens criticos, e um kit de musculação de dez quilos. Seu meio de transporte está em manutenção e a única coisa leve nessa situação são os cabelos de sua cabeça que foram deixados no salão em algum momento entre a bicletaria e a Cobasi.
Caminhando exaustivamente até o terminal onde carregaria seu cartão de transporte público muncipal, Tarcísio (já sabe) revesa o peso pelo caminho, na ciclovia, porém a pé. Decide parar no China para comer um pastel com coca, hábito pouco saudável para ele, que nesse momento só precisava recuperar suas forças.
Chegando no terminal tudo estava certo.
Ah desculpe, tudo errado. Não havia dinheiro em sua carteira e o caixa automático, apesar de dizer Interligado a Rede 24horas, não estava por assim dizer Interligado. Para ele um banco sem dinheiro é apenas um lugar para sentar, então cada vez mais em-hulk-ecido da vida ele segue para o Bradesco à alguns metros.
Ida e volta, carga no cartão, tudo beleza. Mais dez minutos e nosso tão querido personagem estaria repousando semi nu em sua humilde residencia.
E Tarcísio entra no ônibus. E paga sua passagem (notem este fato) e ao repousar no assento ouve em sua mente o descanso de seu ônibus que passaria em frente sua casa... ouve a paz de seu corpo cansado, o estalo de suas juntas... ouve a alegria de seu cachorrinho ao recebê-lo dizendo alegramente com seu focinho branco e peludo "Vemmmm.... vemmmm... vemmm pra rua vemmm.... VEEmmm.. Vemmmm"
O que é isso?
Um protesto?? Logo agora?? Não!! Eles não vão bloquear a passagem do ônibus!!! Não do MEU ônibus!!!
Acontece que, como disse o condutor ao desligar a chave dando de ombros " já que é assim que se resolve as coisas nesse país..."
RESUMO PARA QUEM NAO TEVE PACIENCIA DE LER TUDO
Tarcísio no seu dia de folga tem a presença de espírito de comprar 10kg de anilhas + mais uns cinco de compras é acometido por um protesto, desce do ônibus para ir para casa a pé!
Acontece todo dia né, Leitor.
A caminhada até em casa é de costume, o peso no entanto o fez se sentir uma formiga. Forte e carregando várias vezes seu proprio peso??? Não. Pequeno e esmagado.
Seria egoísmo de Tarcisio pensar algo do tipo "Puxa um protesto logo na minha vez de chegar em casa" não fosse o fato do protesto estar sendo feito por no máximo oito adolescentes com cartolinas.
Um líder, um babaca com megafone e seis submissos. Poderiam ter mais chance abrindo uma igreja quem sabe, mas não acho que vão conseguir baixar o preço da passagem; que foi descontada do cartão de nosso personagem, se bem se lembram.
Se em algum momento você sentiu pena, comiseração ou empatia pelo nosso herói, por favor não faça isso. lembre-se de que esse é o dia de folga dele. FOOOOLLLGA.
Teria o leitor fígado para ler um post sobre um dia de trabalho dele?? Heim??
---- NÃO PERCA O PROXIMO EPISÓDIO : ----
"TARCÍSIO FRANÇA ENFORCA CLIENTE COM O FIO DO MOUSE "
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