Setembro



Quando eu finalmente desisti nós estávamos na cozinha. Silencio nas escadas. Escuro nos corredores. Entao fez-se silencio e escuro tambem em vc.
Eu já tinha falado tanto, tanto! Foi quando eu desisti. Não tive força e nem deveria ter tido. Ainda lembro dos seus braços cruzados, dos olhos neutros semi marejados, da cabeça baixa. Quisesse não lembrar. Mas, sabe, a gente não comanda essas coisas dentro da gente.
Então eu sai pelo corredor do quintal sem olhar pra trás e quando cheguei bem na sua frente eu comecei o processo. Tirei a aliança do dedo e te entreguei. Vc não aceitou, achou muito dramático. Eu disse: com vc ela valia tudo, sem vc ela não vale nada. Pega. E vc pegou. Vc já tinha tirado a sua antes e com uma facilidade assustadora; e ainda dizem que o inferno é quente! É frio meus amigos.
Me lembro tambem de dizer “Me devolve quando achar que tem que me devolver” naquele mesmo instante ainda achei que teria um jeito, mais pra frente.
Então eu sai pelo portao e nunca mais fui o mesmo. Talvez apenas para mim. Porque uma coisa quebrou, eu sei. Ainda lembro do barulho da corrente batendo no portao de metal, num tilintar que faz lembrar ferrugem e tinta descascada. Eu gostava daquele som quando saia por ele me sentindo um homem de sorte. Quando saia por ele olhando para tras e vendo seu sorriso. O sorriso que eu mesmo tinha deixado na sua boca. Pode ser só a minha opinião mas nada disso tinha o direito de acontecer.
Só a minha opinião.
Fico pensando se ao inves de ir embora eu somente tivesse parado enquanto vc voltava para dentro. Será que vc entraria? Por que é muito facil ver alguem ir embora. Difícil mesmo é virar as costas para quem está ali e ir dormir. Será que mudaria alguma coisa? Será que tinha mais alguma coisa pra dizer?
Paro por aqui.
Infelizmente o processo não acaba. Esse tipo de coisa não morre, se arrasta. E assombra.
A sombra do que ficou continua sendo fria. E na minha opinião não precisava ser assim.




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