A T e n Ç Ã O

Quando eu chego em casa depois de um dia de trabalho estou invariavelmente muito cansado. Os cortadores de cana que me desculpem, mas trabalhar de frente para um computador o dia inteiro também é uma tarefa cansativa. Minha cabeça começa a ficar meio anestesiada com o decorrer do dia e em alguns momentos a sensação que tenho é que tem balão preso a um barbante saindo da gola da minha camiseta. Esse é o retrato de um homem de escritório: uma cabeça de balão.

Mas quando chego em casa a primeira criatura que vem ao meu encontro vem tão alegre que não dá para estar cansado demais para recebe-la. Ela vem correndo e ganindo, pula com suas patinhas na minha calça, doida para lamber o meu rosto. Então eu me curvo e converso com ela, as vezes faço carinho e as vezes jogo alguma coisa para ela buscar. Ginger é a minha cachorrinha e quem me conhece bem já deve ter visto ou ouvido sobre ela. Minha mãe apareceu com ela da rua há uns dois anos atrás com olhinhos perdidos e uma cabecinha muito inteligente.

Hoje eu parei pra pensar numa coisa. Ginger me recebeu no portão e fez menção de querer brincar com um tubinho de plástico que estava no quintal. A brincadeira é simples, todos conhecem, você joga algo o mais longe que der e o seu cachorrinho sai correndo, pega o objeto com a boca e trás para que vc arremesse novamente. Sim, Leitor, estou querendo falar com vc sobre a-ten-ção.
Eu não sei porque motivo é tão legal para minha cachorra esta brincadeira. Já pensei nisso e digo que me colocando no lugar dela eu não buscaria o pauzinho mais do que três vezes sem me sentir idiota. Mas pra ela é super legal! Ela adora e, sabe, eu não posso negar isso a ela.

Entendo que cada pessoa tem um universo inteiro dentro de si de “brincadeiras”como essa. Coisas que significam muito para elas, mas que para o outro não fazem muito sentido. E isso é dar atenção a alguém. Se preocupar com o outro. Um gesto pequeno de atenção. Um detalhe da personalidade. Um pequeno ato. Algo que vc está mais preocupado com o quanto aquilo importa para o outro do que para vc mesmo. É muito fácil sentar num bar e ficar enchendo a cara com alguém por horas porque isso é legal para vcs dois, mas tente seguir essa pessoa e deixar-se levar. Ela pode querer companhia para aquele banco na pracinha, ou naquela seção da livraria, naquela janela, naquele dia, naquele instante.

Em algum lugar das Escrituras diz: A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor.

Esta é a única e melhor dívida que devemos ter com o outro.
No meu caso, puxa como eu gosto de ver aquele quadrinho em forma de envelope no meu celular. Aquele que indica que chegou uma mensagem. Nem sempre eu tenho o tato de responder (e as vezes a questão são créditos e não tato) mas eu aprecio tanto.

Leitor, quantas vezes vc recebeu um presente e não se entusiasmou com ele o quanto deveria? Aquele presente que vc percebe que a pessoa nem parou pra pensar se vc gostaria de receber aquilo. Nem me refiro aos presentes baratos, pode até ser caro, mas vc sente que aquele mesmo pacote poderia ser pra qualquer um e por acaso foi vc. Isso acontece por simples falta de atenção.

Não temos um mundo onde podemos dar atenção ao outro. Conhece-lo. Entende-lo. Não temos. Do contrário a depressão, o estresse, o isolamento e o egoísmo nunca nos afetaria.

Querido, tente dar atenção pra alguém. Seja um ouvido. Um abraço. Uma companhia. Um recado. Seja presente. Escreva um recado engraçado onde sabe que aquele alguém certamente lerá; compre aquela balinha que vc sabe que ela gosta; lave uma louça para que alguém não tenha que lavar. Mande um “passei só pra te dar um oi”para alguém. Jogue o pauzinho para um cachorro.
Se vc for capaz de se doar assim pelo menos uma vez por dia terá o privilégio de ser uma pessoa no mínimo inesquecível.

Pratique.

Um comentário:

  1. Passei para visitar e adorei tudo! Adorei o novo formato do blog (se fez mudanças é porque está animado para continuar escrevendo), adorei os textos e, principalmente, adorei saber que a inspiração voltou! Abraço grande! Vou continuar visitando. :)

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