THE BAND AID

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Quando Ted se sentou naquela lanchonete ainda tinha um corte sangrando na testa. Pegou dois, três guarda napos e limpou o rosto pensando na sorte que teve. Sua cabeça doía e doía mesmo. Pressionava o papel contra o rosto o mais gentilmente que podia. Será que ele se lembrava de tudo? Foi uma pancada bem forte. Foi uma pancada de realidade.
- Certo, preciso rever algumas coisas – disse para si mesmo na tentativa de se acalmar e se organizar mentalmente. – Então vc está andando na sua bicicleta pela calçada. Na saída da avenida principal um carro, sabe Deus qual passa por vc e - -
- Vai querer alguma coisa, moço?
Ted tem os pensamentos interrompidos por uma pequena e gorducha garçonete com uma comanda na mão e muita vontade de ir embora pra casa.
- Um café, pode ser.
A garçonete vai embora e Ted está olhando para ela em câmera lenta. Percebeu que foi totalmente sistemático. Não disse a ela seu nome, não sorriu, não teve um diálogo. Percebeu que se aquela menina que ganha 2,75 por hora fosse uma máquina automática teria recebido o mesmo tratamento.
- Espera, moça.
A garçonete se vira.
- Traga dois cafés porque acho que vc também precisa de um.
A garçonete riu e virou os olhos para cima. – Pareço tão cansada assim?
- Não, mas um café vai te fazer bem.
Foi então que ela notou que Ted tinha um corte na testa, que agora começava a avermelhar e inchar. Ela mudou o semblante descontraído e pareceu preocupada.
- Vc está bem?
- Ah, não foi nada.
- Eu tenho um band-aid lá dentro, se quiser. – disse meio sem jeito.
- Pode ser – respondeu Ted.
Depois que a garçonete entrou para trás do balcão e de lá para uma porta escrita “somente funcionários” Ted ficou olhando fixamente para o porta guarda-napos de metal reluzente pensando que tudo podia ter sido diferente. Nem tanto pelo acidente, mas pela sua última conversa. Podia não ter feito a mocinha da lanchonete sorrir. Podia ter sido indiferente como sempre.
Ted sentiu que ser atropelado e não socorrido mudou seus pensamentos. Tentou se colocar no lugar do motorista que o atropelou e ficou imaginando o que ele estaria pensando. “Na certa nem parou pra pensar se fiquei vivo”. Ele deve ter ficado tão preocupado em ter que parar, me socorrer, pagar os estragos, me colocar no seu carro, me levar até o hospital, se atrasar para seu tão importante compromisso, enfim, deve ter ficado assustado com a possibilidade de ter que assumir as responsabilidades de se envolver na vida de um estranho. Eu.
Ao mesmo tempo Ted pensou no seguinte. Todos estamos conectados. Não existem estranhos nesta terra. Homens de negócio, ciclistas, garçonetes, todos estão ligados. “E se no meu lugar fosse um cachorro, qual seria a diferença?’ nenhuma.
- Nenhuma.
A garçonete voltou, serviu o café pela direita; regras da lanchonete. Antes de ir limpou as mãos, tirou um band-aid do bolso do avental alaranjado e colocou na testa de Ted.
- Como vc chama?
- Selma – disse, sorriu e se virou.
- Obrigado Selma.
Ted pensou em mais uma coisa quando bicou a xícara de café. ‘a humanidade está precisando de um band aid na cabeça’. Riu do pensamento e olhou para fora da lanchonete através do vidro transparente. Um carro parou no farol vermelho e dois meninos atravessaram a faixa branca com um skate.

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